sexta-feira, 29 de maio de 2015

Águas de Mata de São João mais uma vez impróprias

Banho deve ser evitado na praia do Portinho, em Praia do Forte, e em três pontos do Rio Imbassaí 
Recebi na manhã desta sexta-feira (29) o boletim semanal de balneabilidade (condição da água para banho) da Costa dos Coqueiros e mais uma vez vejo resultados apavorantes. Dos 28 pontos analisado em um raio de mais de 100 quilômetros, entre águas marítimas e fluviais, seis estão impróprias. Dois pontos, em Villas do Atlântico e Buraquinho, ficam em Lauro de Freitas. Os outros quatro estão em Mata de São João, mais precisamente na praia do Portinho, na Praia do Forte (mais uma vez), e em três pontos do Rio Imbassaí,
                                          Vala que leva água das ruas para a praia do Portinho
Segundo o boletim, as análises do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) da Bahia apontam o Riacho do Arrendamento, próximo ao Hotel Grand Palladium, e mais dois pontos do Rio Imbassaí (Cachoeira da Dona Zilda e próximo à foz) como impróprios para banho neste final de semana.

As análises de balneabilidade indicam contaminação por materiais orgânicos. Os períodos chuvosos são mais propensos a este tipo de ocorrências, pois as águas tendem a levar todo tipo de material pelas ruas e galerias até as praias e os rios. Porém a repetição das ocorrências, o que vem acontecendo em Praia do Forte e em Imbassaí, é motivo de alerta.

Em Praia do Forte é a terceira vez que o Inema aponta condições impróprias e o segundo final de semana seguido. No Rio Imbassaí, as contaminações acontecem com muito mais frequência. É necessário então que o poder público tome medidas urgentes.

                     Sinal de alerta para o Rio Imbassaí     Foto: reprodução

Inadmissível que de 28 praias analisadas em quatro municípios, Praia do Forte e Imbassaí possuem 70% dos locais impróprio para banho. E olhem que Lauro de Freitas, que tem chovido muito mais e se encontra em área de concentração urbana infinitamente maior, apresentou apenas duas praias contaminadas.


O material é analisado e os exames bacteriológicos confirmam as praias impróprias para o banho. A praia é considerada própria quando houver no máximo em 80% das amostras, 1.000 coliformes fecais ou 800 Escherichia coli, ou ainda 100 enterococos por 100 mL de água. 

Ainda que nas análises anteriores a qualidade da água esteja dentro dos parâmetros considerados próprios para banho, se o valor obtido na última amostragem for superior a 2500 coliformes termotolerantes ou 2000 Escherichia coli ou 400 enterococos por 100 mL de água, a praia é considerada imprópria. Esses critérios foram estabelecidos pela resolução 274/2000 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

quinta-feira, 28 de maio de 2015

O filme do ano (de 2002)

Reproduzi esta matéria, publicada em 2002, quando eu era repórter da Tribuna da Bahia. É sobre o lançamento de um dos melhores filmes do cinema brasileiro, Cidade de Deus

Na favela carioca Cidade de Deus, cerca de 10 homens e adolescentes fortemente armados cercam um grupo de crianças que conversam sentadas. Os guris se assustam e tentam fugir. A maioria consegue. Mas dois deles, de aproximadamente 9 e 11 anos, são agarrados e encostados em uma parede. Os dois tomam uma dura do chefe do grupo e quando pensam que serão liberados, são avisados que têm de fazer uma escolha: "Vocês preferem tomar um tiro em uma mão ou em um pé?", pergunta o homem, com expressão demoníaca. O garoto menor começa a chorar e a pedir desesperadamente por clemência. Mas o homem insiste em uma resposta. Quando finalmente ambos escolhem as mãos, ele atira nos pés.

Ainda chorando muito, agora de dor, os garotos assistem ao chefe ordenar um adolescente, de aproximadamente 13 anos, a escolher um dos dois para cometer seu primeiro crime. O adolescente pega uma pistola e aponta durante um bom tempo para a cabeça do garoto menor. A criança, em prantos, grita pela mãe ao ver sua morte se aproximar brutalmente. O martírio só é aliviado quando o rapaz desvia a mira da arma para a cabeça de seu amiguinho e o executa. Essa foi apenas uma advertência do poderoso traficante de drogas Zé Pequeno a uma gangue de crianças delinquentes, que ao cometer saques e furtos, estariam atraindo a polícia para o local.
O filme Cidade de Deus, em cartaz nos cinemas de todo Brasil desde sexta, vai nas raízes de um "c âncer" que leva terror às classes média e alta e dizima comunidades pobres em todo o Brasil. Mostra a realidade nua e crua de uma favela, como nenhum outro longa, curta ou reportagem jamais havia feito. A película, dirigida por Fernando Meirelles, traz as origens do crime organizado carioca e a maneira como ele se encorpou. A história de alguns personagens do conjunto habitacional, nascido no final dos anos 60 e transformado numa das maiores favelas do Brasil ao longo dos anos, é narrada pelo personagem Buscapé, vivido pelo ator Alexandre Rodrigues.

O filme é pesado, tem cenas chocantes, trechos engraçados e histórias comoventes, baseados em fatos reais do livro homônimo de Paulo Lins, lançado em 1997. A adaptação é de Bráulio Mantovani e a co-direção de Katia Lund. Em Cidade de Deus a violência passa longe de ser banalizada como nas produções de guerra e policial americanas ou em outros filmes do cinema nacional. "Nada no filme é gratuito, exagerado ou mera exploração. É arrebatador ao traçar um retrato fiel de uma favela do Rio ao longo de três décadas", a analise é de Kirk Honeycut, da revista Hollywood Reporter.
Buscapé é um garoto que resiste a todo tempo às seduções do crime em busca do sonho de ser fotógrafo. Ele conta as histórias em uma narrativa interessante, na qual é utilizada idas e vindas no tempo e fortes jogos de imagens. O enredo, apesar de falar de dezenas de outros personagens, gira em torno do próprio Buscapé, de Zé Pequeno (Leandro Firmino da Hora) e de Mané Galinha (o ator e cantor Seu Jorge).

A trajetória dos personagens se passa em três fases. A primeira mostra o nascimento do conjunto habitacional, no final dos anos 60, quando Buscapé tinha 11 anos. Seu irmão Marreco (Renato de Souza), junto com Alicate (Jefechander Suplino) e Cabeleira ((Jonathan Haagensen), formavam o Trio Ternura, famoso por assaltar caminhões de gás. O garoto Dadinho trazia a bandidagem no sangue e fazia de tudo para fazer parte da quadrilha.
Na segunda fase, nos anos 70, o Trio Ternura já estava fora de circulação. Foi nessa época que o tráfico de drogas começou a ganhar força. Dadinho já era um bandido respeitado e temido na Cidade de Deus. É nessa fase que aparece Mané Galinha. Ex-atirador do Exército, ele é um honesto cobrador de ônibus que almeja sorte melhor na vida e sair da favela.

Na terceira fase, no começo dos anos 80, Dadinho vira Zé Pequeno, um sanguinário e ambicioso chefe de tráfico que não tira da cabeça a idéia de tomar a boca do rival Sandro Cenoura (Matheus Nachtergaele) e dominar todo o "movimento" na favela. Todo seu ímpeto é controlado pelo sócio, o "malandro sangue bom" Bené (Phillipe Haagensen).
A fase é marcada também pela sangrenta guerra de quadrilhas, sobretudo com a entrada de Mané Galinha na gangue de Cenoura e pela morte de Bené. Mané Galinha só entra no crime movido pelo desejo de vingança contra Zé Pequeno. Durante todo esse período, Buscapé concilia seu bom caráter e o seu sonho profissional com uma convivência respeitosa no meio marginal. Registrar todo aquele inferno é uma das poucas maneiras de se tornar fotógrafo do jornal, no qual trabalha de jornaleiro.
Cidade de Deus, considerado a grande descoberta do Festival de Cannes desse ano, foi uma das produções mais caras do cinema nacional. Seu orçamento foi em torno de U$ 8 milhões. Para realizar a produção o paulistano Meirelles abandonou uma confortável carreira de publicitário. Ele bisbilhotou favelas cariocas em busca de descoberta e formação de atores para fazer pesquisas.

O elenco, formado por 200 atores anônimos, foi escolhido em diversos exames entre cerca de 2 mil jovens. Matheus Nachtergaele é o único ator consagrado que participa do filme. O leitor deve estar se perguntando se a quadrilha de crianças delinquentes castigada por Zé Pequeno aprende a lição? Assista ao filme que você terá uma surpresa.

sábado, 23 de maio de 2015

Praia do Forte e Imbassaí mais uma vez contaminadas

O boletim semanal de balneabilidade (condições para banho) das praias, divulgado na última quinta-feira (21) pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) da Bahia, aponta que a praia do Portinho, na Praia do Forte, e da Boca da Barra de Imbassaí estão impróprias para banho neste final de semana.

                                           Praia do Forte.    Foto: Reprodução

As duas praias, pertencentes ao município de Mata de São João, estão entre as três que apresentaram índices de contaminação por material orgânico, das 16 analisadas na Costa dos Coqueiros (Litoral Norte). A praia do Condomínio Sol, em Jauá, Camaçari, também foi considerada imprópria pelo órgão estadual.

Um dos destinos turísticos mais conhecidos do Brasil e com uma das melhores infraestruturas, a Praia do Forte apresentou condições impróprias para banho pela segunda vez em 2015. A primeira vez foi em abril. Já em Imbassaí, foi constatado contaminação por mais vezes, devido aos sérios problemas ligados a esgotamento sanitário, que vem comprometendo o rio de mesmo nome.

                         Imbassaí.  Foto: Reprodução

O boletim do Inema alerta que em período de chuva, “as praias podem ser contaminadas por arraste de detritos diversos, carregados das ruas através das galerias pluviais, podendo causar doenças”. Essa tese aponta para deficiências, por parte do poder público municipal e da Embasa, na limpeza das ruas e galerias e na gestão do esgotamento sanitário.

Porém não justifica, de forma nenhuma, o fato da Praia do Forte, uma vila pequena e organizada, apresentar índices de contaminação superior a outras localidades com estruturas urbanas infinitamente mais complexas como Villas do Atlântico, Ipitanga, Arembepe, Guarajuba e Subaúma.

A Praia do Forte se notabilizou nos cenários nacional e internacional justamente por sua natureza privilegiada e pelas características culturais de gestão preservacionista, implantada pelo empresário Klaus Peteres, nos anos 80.

Mas ultimamente uma série de problemas, como a violência, a supressão de áreas verdes importantes (devido a especulação imobiliária desenfreada) e a falta de planejamento no uso e ocupação do solo estão comprometendo o futuro, afastado turistas e gerado muitas notícias negativas para o destino.

Rio Imbassaí

Por determinação do Ministério Público, o Inema tem analisado periodicamente águas de trechos do Rio Imbassaí e de afluentes. Os resultados têm mostrado poluição frequente por material orgânico. A Prefeitura Municipal de Mata de São João atribui a responsabilidade pelos crimes ambientais à Embasa e à falta de esgotamento sanitário nas margens do Rio.

Porém, para um grupo de ambientalistas de Imbassaí o buraco é mais embaixo. Segundo eles, além da Embasa algumas grandes empresas e condomínios da região comentem crimes ambientais sistematicamente, que não são fiscalizados pelos órgãos públicos.


De acordo com a resolução Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) a praia é considerada imprópria quando mais de 20% das amostras coletadas em cinco semanas consecutivas, apresentar resultado superior a 1.000 coliformes fecais ou 800 Escherichia coli, ou quando, na última coleta, o resultado for superior a 2500 coliformes termotolerantes ou 2000 Escherichia coli ou 400 enterococos por 100 mL de água.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Projeto oferece aulas de aviação a alunos da rede pública

Através de um projeto pioneiro no Brasil, alunos da rede pública estadual baiana têm aceso a curso multinível de aviação civil. Desde 2013 o Colégio Central, no bairro de Nazaré, em Salvador, conta com um simulador de voo com tecnologia de ponta, em uma fuselagem real de uma aeronave da Embraer.

                                                                                    Fotos: André Drumond

Os jovens aprendem conhecimentos aeronáuticos dentro de uma cabine real, com aparelhos modernos de aviação à disposição. Eles observam as paisagens dos voos por uma enorme tela e led, que dá a impressão de estar voando e operando os equipamentos de uma aeronave de verdade.

O projeto, denominado Asas do Brasil, é de autoria do piloto e instrutor André Bernard Drumond, que há nove anos montou o simulador com objetivos comerciais. Porém o piloto logo percebeu que o equipamento poderia se transformar em uma importante ferramenta de incentivo à educação e à cidadania e apresentou um projeto para a Secretaria de Educação do Estado.


As aulas no simulador do Asas do Brasil extrapolam, e muito, o aprendizado das noções básicas de aviação em simulador. Estimulam os jovens no interesse por disciplinas como física, matemática, inglês e geografia, aumentam a autoestima, possibilitam acesso a um universo que dificilmente suas realidades financeiras permitiriam e os fazem sonhar com voos mais altos na suas vidas profissionais e pessoais.

“Trabalhamos com pontos de convergência entre as matérias que coexistentes na aviação para criar um maior estímulo aos estudos”, explica André Drumond. “Buscamos estimular também melhoria nas inter-relações, no desenvolvimento de coordenação motora e na concentração. Oferecemos também acessibilidade às informações relativas a diversas profissões voltadas à tecnologia, através de profissionais colaboradores e palestrantes do Projeto”, complementa o instrutor.


O projeto começou junto aos Centros Juvenis de Ciência e Cultura da Secretaria de Educação da Bahia, em meados de 2013, e já certificou mais de 200 alunos do Colégio Central e de outras instituições de ensino médio. O curso multinível oferece cerca de 30 dias de aulas teóricas e 45 dias de aulas práticas em simulador.


São três níveis de curso. O N-1 é o curso básico de piloto virtual, o N-2 é o curso avançado de piloto virtual e o N-3 é o curso sobre busca e resgate em simulador de voo. Ao término de cada curso, o aluno recebe o certificado relativo ao curso concluído.

“Desde quando percebi o quanto a aviação agrega valores aos estudos, mas é restrita para às pessoas de muitos recursos, decidi lutar para que este projeto chegasse a alunos da Rede Pública. Me encho de felicidade vendo os jovens felizes, aprendendo e crescendo como seres humanos”, comemora Drumond.